
J: “Tenho muito cabelo, mas antes eu tinha muito mais, até uns sete anos pra nove anos, eu não tinha problema com cabelo, porque minhas tias, mexiam com cabelo. Então cada dia eu ia arrumadinha para o colégio. Tinha vez que minha tia alisava o meu cabelo, quando eu alisava não cortava mais, aí ele ficava grande! Minha tia alisava o meu cabelo, tinha dia que eu ia de trancinha, assim, agarradinha. Tinha vez que ela fazia as trancinhas acima assim, meu cabelo era grande, aí as trancinhas ficavam lindas, colocava bolinha. A gente enchia de bolinha assim, miçanguinha. Eu colocava, ficava balançando, todo mundo achava lindo. Eu era sempre baixinha, sempre miudinha. (...) Do grupo inteiro, todo mundo, até hoje tem retrato meu lá no grupo que eles guardam. E não tinha problema não, sabe?
"Eles me chamavam de neguinha, às vezes os meninos mexiam comigo, mas eu não ligava não. Eu não ligava, eu gostava do jeito que eu era. Eu fui... me acostumei comigo, me acostumei com o que eu era, com minha raça. Então me acostumei e não ligava não, mas o pessoal mexia."
Isso aí eu tirava de... ao pé da letra. Não me atrapalhava não. Eu gostava mesmo, então minha tia quando arrumava o meu cabelo, nossa, eu ficava toda metida. Cada dia um penteado, nossa, eu achava o máximo, principalmente porque chamava muita atenção. As pessoas achavam lindo o penteado... (J., 23 anos, cabeleireira)
“Minha mãe, pra pentear o cabelo, ela quase matava a gente. Fazia aquelas trancinhas. E eu ficava com a cabeça toda doendo. Hoje em dia não tem isso mais, não é? Veja minha filha, olha o cabelo dela e olha o meu na época dela, não tem nem comparação. Hoje em dia está bom para o lado da pessoa negra, porque antigamente... nossa! Quando não era aquele ferro quente, pente quente que passavam no cabelo da gente. Passavam aquele negócio, ficava até bonito, mas depois... caia uma poeirinha, nossa, ficava um horror. Isso foi até eu atingir a minha idade de adulta. Não tinha opção. Tinha que usar isso mesmo. Agora é que apareceu cabelo de tudo quanto é jeito.” (M., 25 anos, dona de casa)
O livro "Cabelo Ruim?"de Neusa Baptista Pinto conta história de três meninas que descobrem a beleza da sua própria imagem e a auto-aceitação. E uma história de amizade entre três meninas negras e pobres, que enfrentam as manifestações preconceituosas com relação ao seu cabelo crespo e vão, aos poucos, aprendendo a aceita-lo, a brincar com ele e amá-lo do jeito que ele é..."
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